31 outubro 2017

Psicose, Robert Bloch.


"Psicose, de Robert Bloch, foi publicado originalmente em 1959, livremente inspirado no caso do assassino de Wisconsin, Ed Gein. O protagonista Norman Bates, assim como Gein, era um assassino solitário que vivia em uma localidade rural isolada, teve uma mãe dominadora, construiu um santuário para ela em um quarto e se vestia com roupas femininas. Em 'Psicose', Bloch antecipou e prenunciou a explosão do fenômeno serial killer do final dos anos 1980 e começo dos 1990. O livro, assim com o filme de Hitchcock, tornou-se um ícone do horror." Psycho  240 Páginas – DarkSide Books – Robert Bloch – Ano 2013 (Originalmente em 1959).

                     
                                                      
     
                                                                 


  Mary Crane está chegando aos 30 anos e tudo o que ela mais quer é que o noivo Sam Loomis quite suas dívidas para que eles possam enfim ser felizes para sempre na pacata cidade de Fairville, onde ele mora.

 A oportunidade se mostra, tentadora, na forma dos quarenta mil dólares que ela precisa depositar no banco a pedido do chefe. Num lapso de loucura, Mary pega o dinheiro e foge para encontrar o noivo.

 No caminho, após dezoito horas dirigindo, ela se perde devido ao cansaço e é obrigada a fazer uma parada no pequeno Motel Bates, bem menos estranho e assustador do que seu contido gerente, Norman Bates. 

 " - Você não pode fumar. Você não pode beber. Não pode sair com garotas. O que faz além de dirigir o motel e cuidar de sua mãe?"



  
  Norman gerencia o motel e mora numa casa atrás dele com sua doente mãe. O autor nos dá vislumbres de lembranças dele e das conversas entre os dois; de cara notamos o quão autoritária e repressora a decrépita senhora é. Norman se sente sufocado!

  A Mãe (sempre em maiúsculo) aparentemente tem muita influência no comportamento do filho e a pobre Mary Crane conhecerá de perto a cólera de uma mãe que não quer outra mulher na vida de seu "garotinho". Tão de perto quanto ela e seus milhares de dólares conhecerão o fundo do pântano próximo ao motel...


  Espero que não se importem de eu revelar isso, já que esse livro tem quase 60 anos e, creio eu, todo mundo viu o filme, né? Bom, a Mary realmente mal passa da página 50 e a história segue acompanhando sua irmã, seu noivo e o detetive Arbogast - contratado pela agência onde ela trabalhava - procurando por pistas da moça.


 Lila, a irmã, é quem está mais determinada e impaciente para encontrá-la, pois tem certeza que ela está em perigo. Sam também está preocupado e tentando não demonstrar para tranquilizar a cunhada, mas ele tenta ser mais calmo e racional, confiando no detetive para encontrar Mary. 

  É muito legal conhecer a história do retraído Norman e de sua misteriosa mãe enquanto acompanhamos a busca pela garota e pelos quarenta mil dólares desaparecidos. Especialmente quando já sabemos o que aconteceu. 

  Ou talvez não saibamos... as paredes da grande e velha casa atrás do Motel Bates guardam alguns segredos. 


A gente baba nessa capa, sim ou claro?


  Como eu amo um bom plot twist! 

  Assisti "Psicose" há anos e não tenho certeza, mas acho que eu não esperava aquele final (não lembro se já tinham me contado). Desde então se tornou um dos meus filmes preferidos.

  
(Paramount Pictures, 1960)


  Eu não sou da opinião de que o livro é sempre melhor. Há casos e casos. Mas Psicose é sim o caso. A história é envolvente e te faz roer as unhas. Eu, que já estou cansada de saber o final, senti o suspense.

  " - Nós não somos tão lúcidos quanto fingimos ser."

  Escolhi esse livro magnífico por conta do Dia das Bruxas e devorei ele num único dia. Há muito tempo não pegava um livro e terminava numa "sentada". Acabei revendo o filme no dia seguinte mesmo e não é que, exceto pela genialidade inquestionável no que diz respeito à cinematografia, o livro é mesmo melhor? Só uma pena ser tão curto.

   Já quero ler tudo do Robert Bloch (1917-1994), porque descobri que ele escreveu mais de 30 romances. "Psicose" é o mais famoso, claro, por conta da adaptação (e agora revisitado na série Bates Motel) e foi inspirado na história real do serial killer americano Ed Gein; a mesma história que inspirou "O Massacre da Serra Elétrica".

  Bom, fica aí a dica pra quem curte um bom suspense. Eu não sei porque demorei tanto pra ler esse livro. Não cometam esse erro!

 Feliz Dia das Bruxas e lembrem-se: as aparências enganam.
  

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26 outubro 2017

Elegias do Fim do Mundo, Fernanda Scheffler.

Neste especial de Halloween, trouxe a vocês - com autorização de Fernanda Scheffler, Diretora Administrativa da Revista Entrelinhas - um de seus contos e como o tema é sobre mistério e suspense pensamos que talvez vocês possam gostar de ter esta experiência.

Para você que quer conhecer mais o trabalho de Fernanda acesse sua conta no WattPad clicando aqui.



Aquele dia de chuva enganaria qualquer um que pensasse que seria só mais um dia. Ou, talvez, de fato fosse. Para muitos foi um dia perfeito para esticar as pernas sobre o tampo da mesinha de centro e assistir a um programa qualquer na televisão. O domingo daquele inverno estava aconchegante e ao mesmo tempo brilhante. As nuvens cinzentas flutuando na abóbada refletiam a luz do sol que se escondia sobre elas e funcionavam como espelhos para aquele som de sinos que ecoava de algum lugar da Alameda Andrade.
As outras crianças estavam alvoroçadas e provavelmente batiam os pés nas portas dos átrios. A pirraça infantil era uma exigência pouco sutil, pois queriam, assim como eu, ir ao circo. Nunca soubemos como ele chegou naquela cidadezinha flutuante às margens do Atlântico, só sabíamos que o vai e vem da água negra os trouxe até Lyonesse.
A Praça Circular fora cedida para que fincassem as toras e erguessem aquela grande tenda listrada e colorida. Depois foram as bandeirinhas e as barracas de doces, espalhadas pela trilha que entrecortava a praça. Nada me chamou mais a atenção do que aquele teatrinho de papel, esquecido entre duas árvores esparsas, pouco distante de um palhaço icônico que distribuía balões e sorrisos.
— Não se afaste muito, Ben — salientou meu pai, pouco satisfeito com o passeio. — Vamos nos encontrar em uma hora aqui neste mesmo lugar, próximo aos balões. Esteja aqui, ouviu?
Assenti com a cabeça diante de seu tom imperativo, virando as costas e seguindo sem olhar pra trás. Sentia seu olhar pousando sobre mim e quase que por mágica ecoava no meu ouvido as palavras traiçoeiras que ele diria assim que voltássemos para casa.
O álcool o transformava em outro homem, ou, talvez, o revelasse. Minha mãe já não se importava com a bebida ou com as agressões; por vezes vi seu sorriso de prazer quando era puxada pelos cabelos e recebia palmadas enquanto despida. Transformou a dor e o medo em uma forma de sentir prazer, já que não tinha outra escolha.
Na trilha de pedras descoloridas passavam crianças para lá e para cá, algumas em grupo, de mãos dadas com os irmãos ou com os pais, e outras sozinhas. Não se divertiam menos, mas eu conseguia ver uma confusão reveladora que, de alguma forma, as carregavam até o teatro. Sentavam na relva com as pernas cruzadas e ouviam o que aquele homem apático dizia. O velho mal abria a boca para falar; seus lábios cansados se moviam lentamente enquanto suas mãos giravam uma alavanca de madeira. Daí as figuras de papel se moviam na tela uma melodia baixa ressoava.
Constrangido, eu ficava distante os vigiando, suspenso atrás de uma árvore. Sem motivo aparente, um dos meninos girou o pescoço e olhou discretamente para mim. Sorriu. Seu olhar de acalento me enfeitiçou de uma maneira incomum e quando vi estava sentado ao seu lado, mas meus olhos estavam pregados nas figuras dançantes.
A voz tímida do velho tinha como plano de fundo aquele sino circense que chamava a cidade para a praça. Ele contava a história de um homem muito bom que, acometido pelo mal do ciúme, perdeu-se no mundo, vagando atrás de alguém que pudesse quebrar sua maldição. Certo dia encontrou uma cigana misteriosa que roubou seu coração, agora dividido entre o ciúme e o amor. A mulher não o amou como ele imaginava que amaria e, por isso, o ciúme novamente tomou conta do homem bom, que, possuído por um demônio, devorou a cigana.
— Então o homem bom não era bom? — questionou uma criança sentada na fileira ao lado. — Ele fez mal a alguém inocente, então não pode ser um homem bom de verdade.
— E por que não? — replicou o velho, sorrindo cinicamente. — Um homem que faz o bem a todos, mas se encontra perdido num de seus defeitos puramente humanos ainda assim é bom, apenas imperfeito.
— E o que aconteceu depois? — perguntei.
— Por que você mesmo não pergunta ao homem? Acreditem se quiser, mas ele existe e mora aqui. É provável que algum de vocês já o tenham visto no mercado ou do outro lado da calçada.
As crianças se entreolharam e se ergueram junto com o velho. Ele empurrava a caixa do teatro de papel enquanto girava a alavanca gasta, desaparecendo atrás de uma árvore sufocada por liana. Eu ouvia apenas uma melodia e o seu cantarolar funesto. As cinco crianças seguiram o caminho em fila e apenas o menino dos olhos brilhantes e eu restamos.
— E você? Não vai? — perguntou; dei de ombros como resposta, desviando o olhar. — Está com medo?
O tom carinhoso do menino se converteu em um ar de superioridade e zombaria. Bufei e trespassei seu caminho. Lá na frente as outras crianças saltavam alguns galhos e coçavam pernas e braços devido às daninhas que encontravam. Às vezes subiam em banquinhos de pedra e saltavam, e suas risadas infantis se uniam à música enlouquecedora.
Eu já não sabia mais onde estava e não conseguia ouvir os sinos do circo. Saímos do bosque e cessamos o caminho em uma rua deserta onde uma bruma cinza sobrevoava o asfalto. Uma placa na curva mais próxima me indicava: rua Oliveira. De qualquer forma, não fazia diferença saber o nome daquela rua, pois ainda não sabia onde estava.
O homem cessou o caminho em frente a uma cerca viva. Mal percebemos ser um portão de metal, que foi entreaberto com facilidade para que pudéssemos adentrar o local. No fim do jardim de árvores secas, vimos uma casa cujo amarelo das paredes perdia a cor. Era pequena e as folhas das mangueiras ao redor criavam um caminho escuso e formidável, com flores silvestres, borboletas e pirilampos.
— Colham as flores — ordenou o homem, ajoelhando-se com dificuldade e tocando os fundos da caixa do teatro de papel.
Viramos as costas focando o olhar apenas nas flores. Justamente a mais bela — de um aroma estonteante e de pétalas azuis como o céu do verão — foi arrancada pelas mãos do menino dos olhos brilhantes, que riu enquanto me observava surpreso e sem ação. Virou as costas para mim ainda gargalhando, e o peso da rocha mais próxima pendeu sobre o seu pescoço.
Não me lembro de mais nada além do negrume.
Tive dificuldade em abrir os olhos devido à luz minguada da lâmpada que pendia sobre a minha cabeça. Ao meu lado havia uma criança de cabelos encaracolados e pele alva; estava viva, mas sua respiração acelerada e as moscas pousadas sobre seus lábios indicavam que não por muito tempo.
Não consegui me erguer. Uma das minhas pernas se contraía com uma dor aguda que se estendia por todo o corpo, embora não encontrasse vestígios de sangue. Subi as escadas me arrastando pelos degraus enquanto soluçava por conta da dor.
A porta estava aberta. Com uma das mãos a empurrei lentamente e continuei a me arrastar pela cozinha apodrecida. Havia algo fervendo no fogão, numa panela escura e imunda — avistei quando me suspendi na pia a fim de me erguer. O odor aparentemente vinha da geladeira, mas tratei de me apressar antes que meu estômago devolvesse o macarrão instantâneo que fiz de almoço.
Manco e choroso, ultrapassei um corredor. Eu tremulava quem sabe de frio ou de medo. O velho do teatro de papel estava sentado numa poltrona, de costas para mim. À sua frente, vendado e estendido no assoalho, o menino de antes. Soluçava enquanto mordia os próprios lábios até sangrarem. Suas mãos estavam amarradas nas costas como um porco. Eu queria rir e não consegui suprimir um sorriso glorioso. Parecia cômica a ideia do seu sorriso debochado se transformar numa expressão de pavor.
—... então se é assim eu o chamarei de Pedro — começou o velho, deitando a cabeça no punho cerrado. — Não desejei nenhuma daquelas crianças. Estão no quarto, dormindo. Em alguns dias os pais os encontrarão, inevitavelmente, mas você... sentou no meu colo quando eu estava vestido como um velho gordo. Era natal. Nunca vou esquecer do que me pediu, Pedro. Você se lembra bem disso, não é? Pediu para desaparecer depois que seus pais morressem. Ah, eu entendo isso muito melhor do que imagina. Também desejei isso. Por muito tempo supliquei por qualquer milagre possível para tirar de mim aquele fardo cruel. Na minha infância e adolescência eu vi meus pais se torturarem, se cortarem e se despirem na minha frente, alcoolizados com a própria loucura. Agiam como animais que eram. Eles me pediam para morrer, mas eu fui egoísta demais para acatar esse pedido. Se foram no meu lugar e nem precisei mata-los; eles mesmos fizeram isso. Como ocorreu? Bem, foi depois que Heitor desapareceu, meu irmão, a esperança da família. Era um bebê chorão e nojento e mesmo assim todos o amavam; estava unindo meus pais novamente e de repente parecemos uma família normal. Eu o devorei certa noite. Depois de meses descobriram que ele estava no fundo do cano de descarga — e gargalhou baixinho enquanto tentava prosseguir. — Tudo mudou num dia como esse. Ainda posso me lembrar da melodia circense.
Os prantos do menino se uniram aos seus gritos de pavor repentinos, que apenas cessaram quando as mãos do velho o sufocaram até que ele perdesse a cor e a vida. Em seguida ergueu-se devagar sem conseguir retirar as mãos grosseiras do pescoço frágil do menino, que foi arrastado e atirado sobre a poltrona.
Então o velho me viu ali, atônito, encarando sua expressão animal. A curva da maçã de seu rosto estava manchada com sangue. Permaneci calado, engolindo a seco suas palavras roucas.
— O que está olhando? — indagou em voz alta, gargalhando em seguida, mal suportando o peso do próprio corpo. — Não me olhe como se não soubesse do que estou falando. Vá. A outra menina é toda sua; ao contrário desse porco imundo ela é doce e delicada. Suje-a. Um dia ela será como as outras.
Tremi e senti o sangue escorrer em minhas mãos. Não era meu, pois não sentia mais dor; nem minha perna latejava mais e, talvez, aquela vitela tenha sido a mais doce que já comi na minha vida. Uma pena que, ao descer as escadas, a menina dos cabelos encaracolados pareça ter sido só outra ilusão. Contudo, o circo ainda estava na cidade e aquele sino ecoando nas nuvens opacas ainda chamava crianças solitárias até mim. Ninguém sentiu falta delas. Na verdade, esse foi o erro: crer que não sentiriam falta.
Quando não se sabe a diferença entre a verdade e a mentira, tudo se torna uma grande mentira, e a maior delas fui eu mesmo. O demônio do ciúme me acolheu e com os anos se metamorfoseou no diabo da insanidade. Era eu e ele, ele e eu.
Aquele dia de chuva enganaria qualquer um que pensasse que seria só mais um dia, porque foi. Para quase todos foi mais um dia comum de inverno com sinos tocando no final da alameda e crianças sendo devoradas por homens maculados pela sua própria natureza.

E apenas isso.

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24 outubro 2017

Anne of the Island, L. M. Montgomery.


  "New adventures lie ahead as Anne Shirley packs her bags, waves good-bye to childhood, and heads for Redmond College. With old friend Prissy Grant waiting in the bustling city of Kingsport and frivolous new pal Philippa Gordon at her side, Anne tucks her memories of rural Avonlea away and discovers life on her own terms, filled with surprises...including a marriage proposal from the worst fellow imaginable, the sale of her very first story, and a tragedy that teaches her a painful lesson. But tears turn to laughter when Anne and her friends move into an old cottage and an ornery black cat steals her heart. Little does Anne know that handsome Gilbert Blythe wants to win her heart, too. Suddenly Anne must decide if she's ready for love..." Anne of the Island – 272 Páginas – Bantam Books – L. M. Montgomery – Ano 1992 (Originalmente em 1915).

                     
                                               
     
                                                                 


  Atenção! Esse é o terceiro volume da série de livros "Anne de Green Gables" e essa resenha talvez contenha spoilers dos volumes anteriores (confira a resenha do último clicando aqui).

  Nossa heroína deixa oficialmente a infância para trás. No fundo, é claro, Anne sempre será a mesma. Mas agora suas responsabilidades cresceram, seu círculo de amigos cresceu e seus horizontes parecem fazer o mesmo.

  Anne deixa seu posto de professora na escola para finalmente cursar faculdade na cidade. Não só ela, como seus amigos de escola Gilbert Blythe, Charlie Sloane e Priscilla Grant. 

  Anne of the Island (Anne da Ilha, na tradução literal) segue os quatro anos em que Anne passa estudando em Redmond. Lá ela e "Prissy" conhecem Stella Maynard e Philippa Gordon, a "Phil", que eu achei bem doidinha. Cheguei à compará-la, na minha cabeça, com a Bridget Jones (do começo do séc. XX, claro) por conta da loucura hahaha. As quatro dividirão a mesma casa e vários momentos engraçados, como não poderia deixar de ser.

  " - We thought you were too shy, - said Anne.
   - No, no, dear. Shyness isn't among the many failings — or virtues — of Philippa Gordon — Phil for short. Do call me Phil right off. Now, what are your handles?"*
  
  Além disso, o amor está no ar não só para Diana Barry, que está noiva de Fred Wright. Anne parece ter encontrado seu príncipe encantado. E ele está entre os garotos que propõem casamento para ela nesse livro. Juro que eu não me lembro quantos pedidos Anne recebe. Uns três ou quatro, creio eu. Mas será que ela aceitará a proposta que sempre esperou? E qual das propostas é essa?




  Que. Livro. Fofo. 

  Os outros dois também são, é. Mas ainda que eu não tenha saído flutuando e suspirando pelos cantos como gostaria, esse traz o elemento romance mais forte. Ver a Anne com ciúmes e, melhor ainda, ver seu pretendente (aquele pelo qual torcemos) com ciúmes é fofo. A garota sofre, principalmente por conta de demorar tanto pra perceber seus sentimentos. No geral acho que podia ser mais doloroso, eu senti falta disso. Gosto de uma história doída. 

  No aspecto romance talvez falte um pouquinho de sofrimento mas no livro não falta. Anne perde duas amigas de infância: uma para o casamento (hahaha brincadeira. Essa ela não perde) e uma para a morte. E esse trecho é de partir o coração.

  Também há muitos momentos engraçados e o mais marcante se dá quando a ruivinha finalmente tem sua primeira estória publicada. Algumas alterações são feitas quando sua melhor amiga manda a estória para uma revista e Anne - dramática que só - quer morrer! Pensa até em desistir da carreira. Eu adoro quando ela é dramática à toa. hahahaha 





  Se tem uma coisa que eu acho perfeita nesses livros é que os títulos até agora trouxeram essa expansão do ambiente e dos horizontes da Anne. Ela chegou "Anne de Green Gables", virou "Anne de Avonlea" e agora é "Anne da Ilha". Isso dá uma impressão tão gostosa de grandeza, não é? Logo ela pode ser "Anne do Canadá", "Anne do Universo"... rs

  Ah! Aos curiosos: Marilla, a Sra. Lynde e os gêmeos (Davy está amadurecendo, até que enfim) vão muito bem, obrigada.

  O final desse livro é um amorzinho (já lhes adianto) e estou bem curiosa com o que vem por aí. Nem imagino que aventuras aguardam a nossa protagonista em "Anne of Windy Poplars" (também publicado como "Anne of Windy Willows"). 
  


  " [...] They walked home together in the dusk, crowned king and queen in the bridal realm of love [...]"**



  "Anne of the Island" ainda não chegou ao Brasil, mas isso não deve demorar. A Editora Pedrazul lançará em português todos os livros da série! Eba!!!

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 * " - Pensamos que você fosse muito tímida, - disse Anne.
   - Não, não, querida. A timidez não está entre os vários defeitos - ou qualidades - de Philippa Gordon - Phil pra facilitar. Já podem me chamar de Phil. Agora, quais os nomes de vocês?"
 ** " [...] Eles caminharam juntos para casa no crepúsculo, coroados rei e rainha do reino nupcial do amor [...] "

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23 outubro 2017

Eu não sabia, Neta Mello.


“O que você faria se descobrisse segredos sobre o passado de seus pais? Após perder a mãe, Vivian se depara com achados no notebook da jornalista. Bailarina que mora em Nova Iorque, Vivian mergulha em cartas, mensagens, fotografias cuidadosamente arquivadas além de registros que Débora organizava para um livro. Obcecada pelo que lê, Vivian conta com o apoio à distância da melhor amiga, Patrícia, bailarina brasileira que conheceu em Nova Iorque. Nas idas e vindas de Vivian para entender quem foi sua mãe, ela própria refaz sua trajetória de vida”. | Páginas: 158 - Chiado Editora - Neta Mello - 2016 - Ficção.




*Livro cedido pela Chiado Editora.*


Encarei o livro por curiosidade, mas tive fiquei “parcialmente” envolvido com a trama o que não é um bom sinal.


Mãe de Vivian, e esposa de Peter, Débora, uma jornalista de renome por seus grandes feitos profissionais - como diversas reportagens feitas em cenários de guerras e locais perigosos do mundo - morre, deixando saudades para a filha - já adulta - e para o marido. Vivian, desolada e inconformada segue os rastros de sua mãe através de seus arquivos guardados em pen drives e HDs Externo, e ela se surpreende negativamente, trazendo um grande ponto de interrogação de quem realmente seria a sua mãe.


Neta Mello desenvolve um trabalho atípico na forma em que escreveu esta obra, pois traz um diálogo mesclado a narrativa - que a propósito é em terceira pessoa - o que para alguns prejudica bastante no fluxo da leitura, contudo também pode ser encarado como facilidade em seguir a história para encontrar um final objetivo. Não vejo como um grande defeito, mas pelo menos a mim não houve conforto neste modelo de escrita, mas o aconchego das letras com tamanhos ideais para as páginas e sobre a diagramação que não é perfeita, contudo ambos são bons por sinal.


É perceptível a tentativa de utilização do tema, mistério na trama, mas esta por sua vez é falha, pois não houve um aproveitamento dela ao longo das páginas e isso tornou a obra objetiva demais apesar de eu amar objetividade em contextos complexos.


Personagens e enredo super bem desenvolvidos e inseridos, e por ser uma história que viaja ao longo do tempo para que seja possível a compreensão de alguns fatos a cronologia está impecável.

A ideia da autora, Neta Mello, foi ótima, particularmente gostei e muito dos acontecimentos, dos laços, da união e também desavenças talvez uma ficção dessas possa te encantar.

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19 outubro 2017

Corra!


 Título: Corra!
Direção: Jordan Peele
Nacionalidade: EUA
Idioma Original: Inglês
Lançamento: 18 de maio de 2017 (Brasil)
Gênero: Suspense
Duração: 1h44min.


Chris (Daniel Kaluuya) é jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose (Allison Williams). A princípio, ele acredita que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz negro, mas, com o tempo, Chris percebe que a família esconde algo muito mais perturbador”.


Durante o período que o filme estava em cartaz, percebi pouca repercussão na mídia, a não ser pela internet que eu ainda via algumas imagens de divulgação junto ao trailer, porém acho que erramos ao não destinamos atenção a este longa.





Corra! possui um aspecto de terror psicológico qual se torna perceptível o envolvimento do telespectador com o que as cenas do longa querem passar. Assim como consta na sinopse, Chris (Daniel Kaluuya) está a caminho da casa da família branca e demasiadamente “amável” de Rose (Allison Williams), seus pais Missy Armitage (Catherine Keener) Dean Armitage (Bradley Whitford) recebem Chris com muito carinho, mas as coisas vão ficando estranhas conforme a percepção do rapaz em relação ao lugar e aos empregados - Georgina (Betty Gabriel) e Walter (Marcus Henderson).


 Os clichês de indiferença social entre “brancos e negros” nos EUA nunca caem por terra e partindo deste o diretor, Jordan faz um reaproveitamento tornando a costumeira prejudicialidade dos negros nos filmes e series, sendo um ponto forte da história, pois o personagem principal - Chris - é negro e não morre rápido como diz a lenda.




Não consegui identificar se o clímax ocorre por preconceito e desvalorização de raças, mas tive a certeza de que o enredo embora original e marcante talvez a trama não se sustentaria sem o personagem principal que por sua vez traz a expressividade de seus sentimentos e suas incertezas sobre a família Armitage.





Parabenizo a atuação de Daniel que apresentou uma ótima desenvoltura no longa, e particularmente gostei do personagem. Allison, por sua vez, faz uma personagem nada interessante, porém a interpreta muito bem a sua personagem de “duplo” caráter - acho que isso não foi um spoiler.


A trilha sonora nos embala e transporta a uma viagem instigante com o desenrolar das cenas e isso acaba se tornando assustador, mas ao mesmo tempo fantástico. Eu recomendo que partilhe essa experiência, caso você não seja muito familiarizado com suspense.



Se você ainda não viu e quer conferir, acesse o NOW e alugue, está imperdível confira o trailer:

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17 outubro 2017

Anne of Avonlea, L. M. Montgomery.


  "At sixteen, Anne is grown up...almost. Her gray eyes shine like the evening stars, but her red hair is still as peppery as her temper. In the years since she arrived at Green Gables as a freckle-faced orphan, she has earned the love of the people of Avonlea and a reputation for getting into scrapes. But when Anne begins her job as the new schoolteacher, the real test of her character begins. Along with teaching the three Rs, she is learning how complicated life can be when she meddles in someone else's romance, finds two new orphans at Green Gables, and wonders about the strange behavior of the very handsome Gilbert Blythe. As Anne enters womanhood, her adventures touch the heart and the funny bone." Anne of Avonlea – 304 Páginas – Bantam Books – L. M. Montgomery – Ano 1992 (Originalmente em 1909).

                       
                                                 
       
                                                                 


  Atenção! Esse é o segundo volume da série de livros "Anne de Green Gables" e essa resenha talvez contenha spoilers do volume anterior (confira a resenha dele clicando aqui).

  Anne Shirley Cuthbert, com seus 16 anos, agora é professora em sua antiga escola. Após recusar a bolsa de estudos, aquele colega com quem ela (demorou mas) finalmente fez as pazes, dá uma verdadeira prova de amizade (será só isso?) deixando seu posto como professor na escola de Avonlea para Anne, para que a moça não precisasse se afastar de Marilla e de Green Gables. 

  O trabalho de Anne, os prazeres e as dificuldades em lidar com seus alunos são o ponto principal de "Anne de Avonlea". Nossa protagonista continua - para sua tristeza - tão ruiva como sempre. E cada vez mais adorável. Aos olhos de toda a Avonlea mas sobretudo aos olhos do amigo Gilbert Blythe.

  "If Gilbert had been asked to describe his ideal woman the description would have answered point for point to Anne, even to those seven tiny freckles whose obnoxious presence still continued to vex her soul. [...]"*
  

  Anne já não é mais uma criança, mas ainda não é uma mulher. Após a perda de Matthew, Anne e Marilla se tornam ainda mais unidas. E a garota prova seu amor e sua gratidão definitivamente quando decide ficar em Green Gables ao invés de estudar na cidade.



  
  Os dois anos seguintes serão de muito trabalho para Anne que, além de ter que lidar com uma classe cheia de pestinhas (e ela é contra o castigo físico, Deus a ajude), recebe em casa um casal de gêmeos que ficaram órfãos recentemente. A ideia era que a quieta Dora e o irmão Davy - este, um verdadeiro furacão - ficassem só até que o tio viesse buscá-los. A vinda desse tio é adiada até que ele acaba por falecer, deixando Anne e Marilla muito felizes. Não por sua morte, é claro, mas pelo fato de que agora Dora e Davy também pertencem à Green Gables.

  Davy dá mesmo o que falar. Educá-lo será uma tarefa árdua e Anne não consegue deixar de compará-lo com seu mais querido aluno, Paul Irving, tão educado e imaginativo. Paul é um doce de criança e é tão criativo quanto Anne, tendo inclusive amigos imaginários. As semelhanças entre os dois são inegáveis e ela se sente tocada por ver tanto de si mesma no pequeno. É por conta dele (não só por isso, mas principalmente) que nossa querida "professorinha" dá até mesmo uma de cupido nesse livro. 

  Pois é, Anne está mais romântica do que nunca, mas garante à sua melhor amiga, Diana Barry, que não se interessará por NENHUM (observo aqui que a própria autora tinha essa mania de ressaltar várias palavras colocando-as em maiúsculo) homem que não corresponda ao seu ideal.





  Eu definitivamente quis dar umas chineladas no Davy o livro inteirinhooooo. Que menino abusado e mal-criado. A paciência que a Anne tem com ele chegou a me comover. Com ele e com todos os alunos, pra ser sincera. Fiquei com a sensação de que ela é muito boazinha pra ser professora hahaha Dá pra entender? Eu, que trabalho com crianças (bem mais novas, é verdade), fiquei até um pouco irritada com uma parte em que a Anne chega a chorar após perder a paciência com o danado Anthony Pye (tudo bem que, naquela época, perder a paciência significava umas pancadas). Mas não é que era disso que ele precisava, afinal? (Não achem que estou defendendo castigos físicos, pelo amor de Deus, me refiro somente ao contexto do livro hein.)

  A narrativa de L. M. Montgomery continua contemplando a natureza e seus fenômenos, poetizando o cair das folhas e o barulho do vento. Sinceramente, espero que isso não mude, porque pra mim é o ponto alto dessa série de livros!

  " - Oh, isn't it sweet and fresh back here? - breathed Anne. - I just feel as if I were drinking in the sunshine."**

  Ainda assim, não senti o mesmo amor que por Anne de Green Gables. Talvez por Anne ter crescido? Acho que não. Por essa "contemplação" narrativa já não ser novidade? Não sei. Senti falta das briguinhas de Anne e Gil? Talvez. O fato é que não me fisgou como o primeiro. Mas é óbvio que não vale menos a pena por isso. 
Pedrazul Editora, 2017

  Ainda que agora a Sra. Rachel Lynde esteja morando em Green Gables, Diana esteja encantada por Fred Wright e Gilbert talvez esteja dando atenção DEMAIS à Anne, não há nada realmente de novo sob o sol, há? A tranquilidade e a paz reinam em Avonlea, nos fazendo ter sempre mais e mais vontade de entrar dentro dessa estória pra nunca mais sair!

 " - How quiet the woods are today . . . not a murmur except that soft wind purring in the treetops! It sounds like surf on a faraway shore. How dear the woods are! You beautiful trees! I love every one of you as a friend."***


-
  

 * "Se fosse pedido a Gilbert para descrever sua mulher ideal, a descrição teria apontado diretamente para Anne, até mesmo as sete pequenas sardas no nariz, cuja presença obnóxia ainda atormentava sua alma. [...]"
** " - Oh, não é fresco e agradável aqui atrás? - suspirou Anne. - Eu sinto como se estivesse bebendo o pôr-do-sol."
*** " - Como os bosques estão quietos hoje... nenhum som exceto o suave roçar do vento nas copas das árvores! Soa como as ondas numa costa distante. Como são queridos os bosques! Suas lindas árvores! Amo cada uma de vocês como a uma amiga."

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